[16.2 – 17]


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e
n
a
t
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J.C.


[AFETIVO
EFETIVO]

Exatamente, vamos pensar,
esta cama é um cais, breve
é nossa despedida, não siga
partida...
A saudade, fazendo-se,
lembra aos amantes laços
para sempre unidos.

Claramente, deixemos
os bons momentos guardados
para melhores reflexões,
não prenda ao peito
como triste recordação.

Num recado:
liberte as palavras de amor,
refaça os hinos...

Prontamente, desviamos
o destino, retornando
ao gozo noutro ninho.
Quem ama não sofre,
não existe partida.
A separação é apenas
um rumor na teima
de um, desesperado.

Resiste a chama
no desejo que inflama,
na paz
dos enamorados caminhos.



Retemos para sempre
o gozo do amor.
Feito um facho,
solene nos vigia.

Cantamos as melhores canções
lembrando de quem amamos,
ouvindo o afinado coro
de nossas afetivas alegrias.



Gosto de pensar:
SOU DO MAR
Não escondo o desejo
por minhas partidas
e partilhas.
De chegar nessas ilhas
com o verdadeiro amor.
Lembro:
vivemos em um mundo de água.
É 75% líquida, a pátria em que habitas.

Vivo solto
nesse barco agigantado
pela ilusão.



Um fundamento
profundamente
fundado
no sentido
de navegar.

Navegamos
numa imensa ilha,
solta, circulando no ar.

- Não tem ar!
É no éter
nosso o caminho,
essa estrada.

Marinheiros
numa nave interessante
chamada Terra, mas,
misteriosamente aquática.


Eu Não Sou Daqui
MARINHEIRO SÓ

Eu Só Tenho Amor
MARINHEIRO SOU

Eu Sigo Essa Guia
MARINHEIRO SOUL
De São, Sã Salvador.





17 ►



            Ontem eu conheci um maluco engraçado que tinha medo do mar, ele falava arrastando uma lenda de embarcação. Dizia ele, lá nele, tinha visto um navio, tão grande que podia voar, mas era um barco absurdo de grande em que todos navegavam...

Eu disse pra ele:
olha a praça
que se meteu no seu mar,
essa onda
que todos virão,
vai te pegar!

Assustado,
ele via o mar
muito longe daqui, como
um sertão separado,
dentro duma gaiola.

É, eu não consegui
fazer ele vê, lá nele,
que o oceano está
também dentro dele.


AONDE VÃO ME CONTAR
OUTRA HISTÓRIA?
DE QUEM NAVEGA
MINHA SINA.
PROCURA O REMANSO
EFICIENTE
MINHA CANTIGA.
RIMA.

SENDO MEU SENHOR
UM PEIXE, EU SEI,
DO SILÊNCIO
NO FUNDO DAS ÁGUAS:
NINGUÉM JAMAIS
JUNTOU, PEGANDO
PALAVRAS
DA BOCA DESSES
SERES.

O SILÊNCIO,
NO RUMOR DAS ÁGUAS
É O LIVRO SAGRADO,
SEM TEXTO QUE IMPRIMA,
DAS EMBARCAÇÕES.




Σειρνας

[LIGEIA]

Uma sereia canta
os seus anseios
e somente o desejo
ela atravessa
com anzóis,
feito um canto
que assusta.

Assusta, mas é bom,
vicia a quem escuta.














Sabemos que
na Homérica lida
com as orelhas de cera,
eles vestiam um selo,
procurando, por desculpa,
não naufragar.
Mas, eles tinham
caprichos de pedras,
não de sereias.


Sereias são lindas moças
com fartos seios
e rabos
de peixe.

Cantam somente
os seus anseios
e somente o seu desejo
elas atravessam
com anzóis de música,
num canto que assusta.

Assusta, mas é bom.
Vicia a quem escuta...




No convés alagado
pousam pássaros
recolhendo
o muito do pescado.

São aves salgadas,
para quem o mar
é também moradia.

Nas recolhidas redes
os peixes pulam, pulam
sustentando seu vigor.
Não é para eles
a morte um terror,
se tanto pulam
tentam voltar
para a água, sua vida.

Nem se lembram da liberdade,
eles não pensam por nossos rosários.

Um pássaro a mais
faz de outro peixe pão.
Outros peixes mais
nos escapam
pelo tombadilho,
revolvem, revolvem.

Voltam à sua morada
insegura,
para o capricho
de outras perigosas presas.

E nadam
para o seu mundo
misterioso
porque não pensam
no amanhã.

Sem a felicidade
dos que fogem
da armadilha.




VARRO – A barca.

Amiga das ondas,
meus ajudantes
ainda a chamam
de bacia.
Feito camaradas...

Deusa bem feita,
os tripulantes estranhos
olham suas curvas
com o devido respeito.
Feito canalhas...

Fiel companheira,
dama elegante, rainha
das embarcações.
Nas minhas orações
eu te louvo e
te chamo de bruxa.
- Livre. Leve e sem culpa.

Muitos mares te sagrarão...




Luz Cambará,
como lhe fazer esse bilhete se já estou em alto mar? Quem sabe eu encerre numa garrafa essas linhas sem precisão.
            Cada porto é um mar, não fazemos mais que suposições, e eu sei que encontrar uma pérola na beira da praia não é coisa escrita em nenhum destino. Então, consciente dessa oração lhe peço pra ter as melhores lembranças dos nossos desejos, peço num sonho profundo que da sua memória fique apenas o que eu vi de zelo. Gozar os encontros é comunhão com o passado, tem um mistério correto no dizendo, mas, a gente sente por ver. O todo é tão pequeno que nessas voltas a felicidade se faz, isso é mesmo o sentido. Não conseguimos esquecer. A memória relembra a lágrima que o vento já enxugou; a memória aceita ligeiro de presente o perfume dum tempo.
A lembrança não é a jaula dum momento, nós, que vivemos de amar, sabemos.
O corpo guarda uma trajetória, o trecho é sulcado feito disco de vitrola, tá sempre lá, na pele, nossa canção.
E tem sempre pra você meu canto, o leme dessa nave solta do oceano a melodia mais bruta, as músicas se juntam. A felicidade ajuda a quem rasga no mar a gigante oração.

Oxalá
J.C.





12 328
Limite 94 333 mt



- Mercador    3 280 kg
- Sardinha     1 596 kg
- Barão              318 kg
- Subarana       122 kg

---

                                   vale                saldo
¬ Realejo                   75                    225,
¬ Camarada              12                    288,
¬ Júlio                                   38                    272,
¬ Matriz                    62                    238,
¬ Gustavino             25                    275,
¬ Semporca              113                  187,
¬ Nove seis              54                    246,
¬ Branco                    38                    272,


Oléo  =>  56 932 lt




do que se descobre na língua do povo é o retrato do que junta a tradição. Eles se dizem deus, cristão, encruados que são. Eu digo mais, é deus e é tudo junto, não tem respaldo quem brinca com o sentido, dá opinião alheia, do povo: dum porto: tão ali, fadados, a viver recolhendo e enxugando estória. Não se aventuram a desconfiar que a partir do cais tenha outro milhão de gente que caga feito divindade feito eles.
Besta é quem desce pra beber com esses patuscos, prefiro aquela gente das docas que sabem viver no gozo eterno do Saber, sem cuspir fora a saliva do divino. Destino.

E eu mesmo, tô falando tanto em destino, que viro marmota!
Ou bosta!

- Nessa porra!





[o Sol]
alvoroçado
Sai do Mar
chiando a água
queimando as nuvens
bola abstrata
linda demais
brilha que só
quente quicé
dono do dia
[a Lua]
Brilha Calma
levantando vem
espelha n'água
como a mais bonita
Estrela do dia
Prata besouro
alumiando a noite
as nuvens zelando
sem nenhum consolo




[Naive Nobreza]

As sobremesas da noite
são as constelações,
estrelas no céu traçado.
Mudo de opinião, faz supor
cada coisa esse reinado.

Se fosse possível conversar
com alguma autoridade do cosmo
devia-se perguntar:
como pode fazer tanta beleza?
Das mais belas...

Procurar explicação, não!
Mas, assuntar...
- Porque borda os espaços
com tão lindas teias?

Tenho fé que tudo isso
é pra gente se ver,
sentir no caminho
como o mundo é gigante.



Sendo humano
um horizonte de água,
numa aurora
perfeitamente escolhida...
É coisa do acaso.



Saía do rebordo do navio
uma urgente música
que tremia, 
feita num ritmo
africano.

Não era tão longe
esse mar.

Era mais uma solução
que eu achava vadia
e permitia
meu sentido
sambar.


Festa a bombordo.
Ô trapalhões!
Bebem e dançam,
comum, outras bestas.
Foram
enforcados ao sair,
deixando os cruzeiros
além do cais, mas,
eles se julgam mais
felizes assim.

Vejam só:
tirando a sorte
e puxando a alça
do sutian no marujo
que paga
a prenda da vez...
Caindo,
escorregando tontos
no molhado piso,
fedorento a peixe...

Esqueceram
seus romances baratos
com muitos goles
de vinho e cerveja.
E nem se lembram talvez
que deixaram
seus suados cruzeiros
pularem de suas calças, ou
que já viram tetas.




Encontrar uma baleia
é como sempre lhe disseram:
tem uma simpatia que faz
a atmosfera toda planar.

Muda a respiração,
de toda a redondeza
desce um elo com o sagrado.
Enquanto ela passa
cada movimento
daí em diante,
é transparente.

Observamos
longos
seus penachos
de espuma
e forte pressão,
num rufar de gêiseres.

Resguardamos
o seu músico sonar
na vívida impressão
de que sorrimos
pela testa...

Imensa e lenta,
sábia e honesta
ela apenas levita
cercada
de movimentos.

Clara e madura.
Cruel e discreta.



Este manuscrito é um perdido caderno, escondido há 20 anos.
Exatamente reencontrado quando eu acordei dum sonho bonito lembrando esses planos.
Eu venho num hábito inocente, desde a minha infância, de guardar dentre os livros da biblioteca que há na casa de meus pais desenhos e escritos, como uma forma de plantar uma arqueologia pessoal e futura.
Na minha primeira adolescência eu comecei esses sonhos de marujo, ou desde antes, mesmo o meu boneco Playmobil veio sendo um viajante dos mares, numa canoa laranja com arcas e baús de tesouros, muitos chapéus, gravatas malucas... Deixando sempre um rico traçado no meu folclore, minha literatura testemunha.

Ele foi assim editado sem grandes modificações, umas correções ortográficas e vírgulas e pontos especiais saltaram de seus antigos lugares, ganharam a real dimensão. É um caderno médio e pautado, daqueles com dois grampos, onde grafei a minha primeira âncora... Quem sabe...


Vale do Rio Açu, quase carnaval do ano 37
r.

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